Real Irmandade de NSSSS

História

História da Irmandade

No auge da expansão ultramarina, Portugal foi o primeiro poder à escala global, formalmente reconhecido através da bula papal que foi o Tratado de Tordesilhas (1494). Os poderes político e militar do reino estavam muito ligados à religião, tendo surgido, em 1505, a Irmandade de São Sebastião, como congregação dos artilheiros de Lisboa.

A afirmação do nosso poder naval era acompanhado do desenvolvimento da artilharia (dos navios e de defesa da costa) e assim foi criado o primeiro corpo de artilheiros de carácter permanente, os “Bombardeiros da Nómina” (com 100 militares) oficialmente criado em 1515 pelo rei D. Manuel I. A Irmandade de São Sebastião, criada em 1505, era assim a congregação dos artilheiros de Lisboa, numa época em que esta especialidade militar tinha grande importância em terra e no mar. Entre outros casos, foi neste período que foi construída, na ilha de Moçambique, a fortaleza de São Sebastião, para dar proteção e apoio às naus em trânsito para o Oriente (a chamada Carreira da Índia),  considerada o mais representativo exemplo da arquitetura militar portuguesa na costa da África oriental.

A capela primitiva foi edificada no início do século XVI, junto à antiga muralha Fernandina, por iniciativa dos artilheiros da guarnição do Castelo de São Jorge, após uma epidemia que assolou Lisboa. Em ação de graças pelo facto daquela epidemia não ter atingido a guarnição do Castelo, os militares dedicaram a ermida à devoção do santo mártir São Sebastião, (também militar romano) proclamado patrono de Roma pelo Papa Gregório Magno, devido a uma situação epidémica que afetou Roma na antiguidade.

Após a epidemia de 1569, foi criada a Irmandade da Nossa Senhora da Saúde, a qual tinha a sua sede no Colégio dos Meninos Órfãos, onde permanecia, no Oratório do Colégio, a imagem de Nossa Senhora da Saúde.


Decorria o ano de 1273 quando a rainha D.ª Beatriz (popularmente conhecida por D.ª Brites), mulher de D. Afonso III, fundou o primitivo Colégio para meninos orfãos.  Em 1549, D.ª Catarina reformou-o e fundou-o de novo, a instâncias do padre catalão Doménech, com a designação de Colégio dos Meninos Orfãos.


No ano de 1570 (em 20 de abril, uma quinta-feira) realizou-se a primeira Procissão de Nossa Senhora da Saúde, a mais antiga da cidade de Lisboa.

A Irmandade dos artilheiros foi ganhando importância, especialmente durante o reinado de D. Sebastião e, em 1596, a ermida passou a Igreja paroquial de São Sebastião.

Século XVII

Próximo da zona onde se localizava a Capela dos artilheiros foi criado, em 1590, o colégio jesuíta de Santo Antão-o-Novo e a célebre “Aula da Esfera”, a mais importante instituição de ensino e prática científica em Portugal (na qual se lecionava geometria, aritmética, trigonometria, cosmografia, astronomia, náutica e arquitetura militar), e era também, numa encosta a norte da Capela, que funcionava a “barreira”, uma carreira de tiro onde os artilheiros exercitavam o tiro de artilharia.

Em 1641 o rei D. João IV reorganizou o corpo de bombardeiros da Nómina (de 1515), aumentando o seu efetivo de 100 para 300 homens  (200 portugueses e 100 estrangeiros) e criou a Aula de Artilharia e Esquadria, considerada a primeira escola superior militar portuguesa. Além da criação da escola de artilharia, foi constituída uma nova estrutura orgânica na artilharia do reino com a criação de novos cargos, como o Capitão de Bombardeiros (subordinado ao Tenente General da Artilharia do reino) e o Condestável, que era o comandante da guarnição de cada boca de fogo.

Em 1647, através de um alvará de 27 maio, foi definido que “aos condestáveis que assentassem praça para servir na Índia se tirassem 400 réis e aos artilheiros 200 réis para se refazer do necessário para o culto da Ermida de São Sebastião”.

Após o desentendimento entre os responsáveis do Colégio dos Meninos Órfãos e da Irmandade de Nossa Senhora da Saúde, em 1661, os artilheiros da guarnição de Lisboa ofereceram a capela de São Sebastião, que ficava quase defronte, para acolher a imagem de Nossa Senhora da Saúde, passando aquele local de culto a designar-se de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião. As duas irmandades, a de São Sebastião e a de Nossa Senhora da Saúde, juntaram-se assim numa mesma Irmandade, com a aprovação do Papa Alexandre VII, nascendo a atual Irmandade de Nossa Senhora da Saúde e de São Sebastião. A 20 de Abril de 1662, a imagem da Senhora da Saúde foi colocada no altar-mor da capela.

Durante a guerra da Restauração da Independência (1640-1668) os artilheiros ganharam mais importância, recebendo a influência dos militares estrangeiros que apoiaram a causa portuguesa. Depois da guerra, o corpo de artilheiros foi organizado como Troço de Artilharia (criado oficialmente em 1677), a primeira unidade de artilharia constituída por pessoal já com condição militar.  Esta foi a grande reforma da artilharia em Portugal, após a criação do corpo de bombardeiros, em 1515, e da sua reorganização em 1641.

Século XVIII

Durante o século XVIII, a capela dos artilheiros sofreu diversas obras segundo o estilo barroco, refletindo a melhoria económica no período do ouro do Brasil e depois do terramoto de 1755, através de algumas obras de restauro. Foi construída a atual fachada em estilo barroco e, após o terramoto, foi reconstruida a capela-mor, onde está a imagem da padroeira. Em 1723, o culto a Nossa Senhora da Saúde foi novamente reforçado quando um surto de febre amarela (vómito negro) assolou Lisboa e a população rogou à Virgem a salvação da sua terra. Em Lisboa, nesse ano de 1723, morreram 6000 pessoas vitimas de febre amarela (doença causada por um espécie de mosquito que terá chegado a Lisboa, vinda das terras do Brasil), durante a época do ciclo do ouro do Brasil, de intensos contactos entre aquela colónia e a metrópole.

Século XIX

Depois da época conturbada das invasões francesas e dos conflitos internos resultantes da revolução liberal, a Irmandade voltou a ter a proteção dos monarcas, da nobreza, das elites militares e de alguns beneméritos.

Em Portugal o culto a Maria Nossa Senhora (culto mariano) foi muito desenvolvido na segunda metade do século XIX (após 1854), principalmente na religiosidade popular, através das procissões, das romarias e dos círios, quase todos dedicados a Nossa Senhora.

Em 1861, o rei D. Pedro V elevou a ermida à dignidade de Capela Real e, neste período, foi relevante a influência do ilustre oficial de artilharia, o General António Florêncio de Sousa Pinto (1818-1890), que foi Diretor Geral de Artilharia, Ministro da Guerra e Ajudante de Campo dos reis D. Fernando II e D. Luís. Foi Par do Reino, escritor, fundador  da Revista Militar e do Grémio Literário, Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal e presidente da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha.

Foi também nesta época que a capela recebeu algumas das mais notáveis peças do seu espólio de mantos e vestidos, tal como o vestido de casamento de D.ª Maria Ana de Áustria com D. João V, um outro oferecido por D. Miguel e, ainda outro, doado pela rainha D.ª Maria II.

No final do século XIX com a herança deixada à Irmandade pela benemérita D.ª Maria Balbina dos Reis Pinto, a Irmandade criou em Campo de Ourique, um Lar de Cegos para pobres. Foi assim criado em 1897 o Asilo de Cegos de Nossa Senhora da Saúde, (com estatutos aprovados pelo Governo Civil de Lisboa a 28 de julho de 1897) inaugurado no dia 1 de abril de 1898. O antigo Asilo de Cegos passou por algumas reorganizações no século XX, assumindo atualmente a designação de Fundação-Lar de Nossa Senhora da Saúde, com o estatuto de IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), sem fins lucrativos.

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